sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Carlos Drummond de Andrade


Gosto da água que bebo
em seu filtro de barro
límpida e sagrada
parece de mina
Que importa se a bebo
em um mero copo de plástico?

Não consigo olhar direto em seus olhos
brumas, neblina
onde até fumaça de cigarro fica pura

Acabamos de nos unir pela loucura
mas me apoio na lucidez que nos separa

Não posso ler seus livros
nem você os meus. É nosso pacto de cura

Respiro bem seu ar de São Francisco
sua voz tem gosto e cor
e me come em segredo
ou serei eu que como a sua voz
- pão de palavras?

2 comentários:

  1. Iracema, gostei tanto daqui. A fumaça de meu cigarro ficou pura ao ler. Algo de mito e de mato. Que os elementos nos guiem.

    Um grande abraço.

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  2. Abrir o dia com uma poesia assim, é um prazer que as suas escolhas nos dão. Assim, simples, bela e refrescante como o copo daquela água que o poeta canta. Obrigado . Beijos.

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