O livro “ A terceira mulher”, do filósofo francês Gilles Lipovetvsky, traz algumas ideias instigantes para pensar o feminino no século XXI. Esboço aqui pelo menos duas dessas ideias.
Encontramos um capítulo com um subtítulo intitulado “ Don Juan cansado”. O mote é que por mais que ainda possa ser interessante para os homens exibirem suas conquistas amorosas e aventureiras, esse modelo donjuanesco estaria se tornando muito repetitivo e esgotado. O ideal de coleção de aventuras e seduções estaria perdendo terreno, mesmo entre os homens, para um endereço diferente do desejo com o sentimento de vínculo, companheirismo, cumplicidade erótica, traduzindo assim, não a ruína da identidade viril, mas um certo avanço, um certo equílibrio entre os dois sexos na vida amorosa. As dúvidas sobre essa argumentação me parecem ser múltiplas, mas extremamente convidativas à reflexão. Ainda mais porque é bem difícil dizer o que é ser masculino e feminino hoje.
Outro asssunto que me chamou a atenção nessa primeira leitura é que, por mais complexos que ainda sejam os temas das relações e diferenças entre o trabalho masculino e feminino, o poder está passando, de alguma forma, por uma feminização, mesmo entre as mulheres que em algum tempo recusaram a identificação com caracteríscas femininas milenares como a busca por pequenos artíficios da beleza, pelas maquiagens, pelos vestidos coloridos, elegantes ou descolados.
Antes entendido apenas como um poder diabólico de feiticeiras, a mulher trabalhadora, passando por conflitos em suas múltiplas faces sexuais, amorosas e familiares, não parece, segundo o pensamento de Lipovetsky, desejar abrir mão de suas características milenares, buscando-as cada vez mais, em todas as idades, no modo como como se veste, como usa seus brincos e colares, e, a meu ver, até no detalhe da pintura das unhas. Dúvidas sobre essa argumentação também rendem muitas costuras e escritos e tentarei retomar essas ideias em outra oportunidade. É um prazer ler Gilles Lipovetsky.
Lipovetsky, Gilles. A terceira mulher: permanência e revolução do feminino.Trad. Maria Lúcia Machado. Companhia das Letras.2000.
Título original: La troisième femme: permanence et révolution du féminin.Paris: Gallimard, 1997
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