sábado, 26 de março de 2011

Dioniso diante de Apolo

Agora que acalmaste meu tornado
e que aceitei tua flecha
sobre a minha carne

Agora que me fecundaste com a medida
e que me deste margens
Agora que pousaste a mão
sobre o meu medo

Vês como as palavras nascem de mim
pausadas
e como tornei-me brisa
ateada sobre o pranto?

Desde que me concedeste tua máscara,
deus solar,
a noite que eu trazia
perdeu o gume terrível

Vem, amigo, vem ver
como, mesmo diante do sangue,
tornamos bela
a dor para esses gregos

2 comentários:

  1. um homem com uma dor
    é muito mais elegante
    caminha assim de lado
    como se chegasse atrasado
    andasse mais adiante
    carrega o peso da dor
    como se portasse medalhas
    uma coroa um milhão de dólares
    ou coisa que os valha
    ópios édens analgésicos
    não me toquem nessa dor
    ela é tudo que me sobra
    sofrer, vai ser minha última obra
    Paulo Leminski

    Acredito ter encontrado a continuação para a sua poesia. Ela bem poderia começar onde você parou. Evocativa. Parabéns.

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  2. Poema belíssimo. Dioniso não pode ser absoluto como apressadamente se supõe; então, seria a indistinção, não haveria a obra que ordena a beleza, não?

    Abraço.

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