quarta-feira, 14 de julho de 2010

Fragmentos sérios da Foliasofia

No quarto livro de A gaia ciência alguns aforismos são reveladores de uma filosofia trágica de Nietzsche e, aproveitando o ensejo de A gaia ciência, contextualizo esse conceito irreverente de foliasofia. Após a primeira fase de juventude de Nietzsche em que tragédia e obra de arte estavam intrinsecamente ligadas temos o momento de maturidade em que a tragédia é ora o risco da total ausência de referências estáveis como o registro da pergunta no aforismo 34 de Humano, demasiado humamo: “mas nossa filosofia não se torna assim uma tragédia?”, ora o início de uma experiência de afirmação da existência. Em ambos os casos um outro aspecto da filosofia trágica se apresenta: O conhecimento trágico como mutável, passível de transformação e reaprendizagem, desconfiado do que é sólido e das opiniões petrificadas. Nesse sentido já no segundo volume do Humano, demasiado humano, em O Andarilho e sua sombra, no aforismo 332, Nietzsche afirmava que não nos faríamos queimar por nossas opiniões, tão pouco seguros nos sentimos acerca delas, mas pelo direito de ter opiniões e de poder mudá-las. Nada impede que haja um deslizamento contínuo em nossas opiniões, não estamos presos a um caráter único, a uma única forma de pessoa, a uma única possibilidade de vida. Ao conceito de alma imortal Nietzsche nos acrescenta a ideia de muitas almas mortais ( viele sterbliche Seelen) que não cessam de se transformar em nós. Essa ideia pode ser encontrada no aforismo 17 do segundo volume do Humano, demasiado humano. Somos enquanto sujeito plural, um feixe de muitas almas, uma multiplicidade. Também a partir do aforismo 305 desse segundo volume, entendemos que para exercício dessa multiplicidade é preciso saber perder-se a si mesmo de vez em quando. Para um pensador seria prejudicial estar sempre ligado a uma só pessoa, a um único olhar, a única forma de ver a vida. Foliasofia , a meu ver, é também uma forma mais plural de filosofar.

13 comentários:

  1. Sim: a ideia de mtas almas imortais é mto mais interessante do que a de uma só.
    O direito a mudar é o direito, tb, a melhorar - é necessário transgredir, mtas vezes, para estar melhor, inclusive com quem nos cerca.
    A foliasofia dá ao msm tempo seriedade à pluralidade e leveza ao pensamento. O direito a deslizar deixa o que pensamos mais leve e mais sério.
    A folia é uma coisa mto séria... e a sofia algo que pode ser mto suave e alegre.
    Que viva a foliasofia!

    ResponderExcluir
  2. almas...não, não, não, não penso em almas mas em estar ali, tipo, meu pai esta em mim, sou o meu pai mais alguma coisa que então sou eu...mas meu vô esta no meu pai e assim, meu vô esta em mim...bem, todos estão em mim, então passo a ser muito mais que eu, mas um depositário de todos...realmente não sou eu...mas sou todos, e isso é certo!
    Renato Pinali.

    ResponderExcluir
  3. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  4. Acho que a Filosofia vai além de tudo. Quebra paradigmas. Você pode levar sua mente, ou sua mente te levar onde ainda ninguém nunca foi ou nunca chegou. Isso é que é legal: essa dinâmica da ciência conhecida como Filosofia. Nada é exato, nada é correto; apenas aceitável.
    Fugir de padrões, regras, limites, e, conseguir atingir o inatingível, crer no impossível, tirar traves dos olhos e olhar para algo além do horizonte, onde seus olhos ainda, não chegaram.
    Essa é minha opinião.

    Fiquem com Deus!
    Beijos, Camila Martins.

    ResponderExcluir
  5. Filosofar é esclarecer ,questionar. Retirar a rigidez de uma mente ignorante. Tentar ser único sem ser superior. Entrar em contato com a matriz mais primária da natureza humana, sem nunca negar sua existência e ter amor pela vida.

    ResponderExcluir
  6. A minha professora de filosofia tem o poder de ousar. Seja na sala de aula, explicando a mitologia de uma forma totalmente inovadora, ou contando suas histórias. Quem já teve uma professora fantasiada de Minotauro? Quem aprendeu filosofia com as luzes totalmente apagadas? Alguém aí já teve uma professora que foi pra Colômbia e quase não conseguiu voltar? Eu tenho certeza que a minha filosofia é uma folia. Foliasofia. É o poder de gerar alegria.
    Pedro Kappler.

    ResponderExcluir
  7. Agora encontro nomenclatura: Foliasofia. Não conheço Nietzsche em "Humano, demasiado humano", mal conheço de "Além do bem e do mal", mas esse é o sentimento que de certa forma experimento. Nietzsche é completamente um divisor de águas para quem não gera sabedoria como ele. Ele, por mais imoralista que seja, não é egoísta: nos proporciona essa vivência, ao fim e ao cabo. A vivência de ser sua amante Lou Salomé.

    ResponderExcluir
  8. "não nos faríamos queimar por nossas opiniões, tão pouco seguros nos sentimos acerca delas, mas pelo direito de ter opiniões e de poder mudá-las."
    "Foliasofia , a meu ver, é também uma forma mais plural de filosofar."

    Filosofia não é ter uma opinião rígida e imutável, é ter a capacidade de ser vários em um só, de olhar por olhos que não são seus, ou não todo o tempo, é refletir de diversas óticas e não chegar a um conceito único, no máximo o mais próximo disso, pois, a partir do momento em que conceituamos algo passível de ser refletido filosoficamente, ele torna-se algo sóligo e imutável, e não encontraremos mais nele a atividade de filosofar. Essas diversas óticas, diversas conclusões, diversos significados, e consequentemente e principalmente, diversos sentimentos, torna a filosofia uma folia. Não necessariamente no sentido de desorganização e anarquia, mas no sentindo de dinâmica, prática e vida. Por isso, foliasofia é a atividade de filosofar juntamente com viver e sentir.

    ResponderExcluir
  9. Folia. Segundo o dicionário: brincadeira, folgança; discussão, confusão.
    Filosofia: Conjunto de concepções, práticas ou teóricas, acerca do ser, dos seres, do homem e de seu papel no universo.

    A Foliasofia combina esses dois conceitos.
    É "uma forma mais plural de filosofar", segundo nossa professora. E é também uma forma mais completa de compreender a multiplicidade do homem, entre suas alegrias e confusões, entre "as folias" da vida, de uma forma bem filosófica.
    Nívea Ázara.

    ResponderExcluir
  10. Realmente essa multiplicidade de pensamentos é muito necessária, percebo isso através de minhas próprias reflexões, pois quando me deparo com diferentes acontecimentos da vida vejo que pensar de uma única forma sem dar oportunidades de outras visões que avaliam a mesma realidade nos torna seres um tanto ingnorantes.Por isso "foliosofar" se torna algo essencial para que possamos nos tornar críticos frente a decisões importantes em nossas vidas.

    ResponderExcluir
  11. Não busque caminhos já traçados. Faça a sua própria trilha e deixe a sua marca.
    Lucas fernando

    ResponderExcluir
  12. A multiplicidade e pluralidade de ideias e pensamentos se refletem nos inúmeros lados da nossa personalidade, que são como máscaras que usamos para encarar o mundo com o que temos de melhor; ou fugir dele escondendo os nossos defeitos, dos quais nos envergonhamos.

    Pedro de Almeida Amaral

    ResponderExcluir