A mulher doida me aponta a faca
e me fala
Me chamem da pior rapariga mas
não me chamem de tira-gosto
O burro pertinho comia melancias
Não sei por onde começar essa mulher
com saia vermelha e vassoura
Viver não tem início
A mulher escreve o nome na areia
é Anelita é doida
Estamos no alto da duna
Eu e a doida
eu que também sou Anelita agora e tanto
pois que o mar que nos cerca nos ajunta
Estamos dentro da onda
Eu e Anelita
Ela com sua faca, eu com aquele chapéu da Bolívia
Eu e ela emboloadas
Eu e ela vamos ser queimadas juntas?
A lâmina de sua faca e a lhama do meu chapéu?
Ninguém viu
Nós não rimos, mas no fundo rimos
a mulher doida e eu
a doida e a moça descompassadas
Rimos assim dos nossos rumos incertos
dos remos que nós não temos
para atravessar essa baía tão vasta
Rimos dos nossos crimes
enquanto o sol ia arder do outro lado do mundo
enquanto o menino veio e levou o burro
nós ficamos ali amedrontadas e francas
Há um silêncio nas ruas,
Anelita doida,
um silêncio como a falta de dentes em tua boca
eu vi meninas brincando
fingindo que um bolo de barro
era um bolo de aniversário
vi sacos de carvão empilhados
e pombos no telhado
E tu, Anelita, és mera como isso tudo
e apaixonante como essa chuva
à noitinha
molhando as hortas
Este foi o encontro da mulher doida e eu
sobre a duna
era novembro em Baía Formosa
eu e Anelita, para sempre juntas
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Maravilhoso!!! vou dedicar a uma Anelita. Obrigada
ResponderExcluirVenho aqui sempre, estou com saudades das postagens! rs
ResponderExcluirThalita
Adorei esse poema Ira! Bom demais.
ResponderExcluirEstou me entrometendo no seu blog pela primeira vez, achei um link num site por aí, vim visitar e gostei.