Teus passos, filhos do silêncio,
voltam-se lentos e sagrados
para o leito da minha vigília
passos mudos e gelados
Pessoa pura, sombra divina
como se detêm doces esses passos
Deuses! Todos os dons que adivinho
vêm a mim sobre teus pés nus
Se teus lábios se adiantam
e se preparam
para apaziguar meus pensamentos
com o conforto de um beijo
Digo: não te apresses nesse gesto terno
doçura de ser e não ser
pois eu vivi de te esperar
e meu coração precisa dos teus passos
* Tradução livre a partir do poema “Les pas”( Os passos), de Paul Valéry(1871-1945)
quinta-feira, 20 de março de 2014
quarta-feira, 19 de março de 2014
Casarão da poesia
Transportes Currais Novos
está patrocinando e formando
indivíduos de alto calibre
versáteis, versados em todo tipo de contemporaneidade
e antiguidade
inscrições abertas:
literatura de cordel e vanguarda
cinema na rua, desenho animado, gravura
violino, guitarra, sanfona
teatro e todas as outras artes
estamos dando continuidade
ao programa cultural da cidade
nosso lema:
para além da seca somos chuva
para além dos incêndios somos calma
tungstênio é nossa alma
está patrocinando e formando
indivíduos de alto calibre
versáteis, versados em todo tipo de contemporaneidade
e antiguidade
inscrições abertas:
literatura de cordel e vanguarda
cinema na rua, desenho animado, gravura
violino, guitarra, sanfona
teatro e todas as outras artes
estamos dando continuidade
ao programa cultural da cidade
nosso lema:
para além da seca somos chuva
para além dos incêndios somos calma
tungstênio é nossa alma
segunda-feira, 17 de março de 2014
A astrônoma e a lua
Viagem à lua tá fora de moda
pois para lá viajo todo dia
acompanho a lua minguante
a nova, a crescente,
a cheia
tô uivando dentro do telescópio
e envio meu grito para lá
a lua é dos lobos, dos poetas,
das naves e das aeronaves
a lua sim é que o lugar
pois para lá viajo todo dia
acompanho a lua minguante
a nova, a crescente,
a cheia
tô uivando dentro do telescópio
e envio meu grito para lá
a lua é dos lobos, dos poetas,
das naves e das aeronaves
a lua sim é que o lugar
sexta-feira, 14 de março de 2014
me travesti de poesia
meu amado
onde estou não existe geografia
e não está finda a minha sorte
estou a fim é de sorte
meu leito é do mundo inteiro
não estou perto nem longe
não estou tardando querido
onde estou não existe tempo
mas aceito ir aí como o vento
com os teus cabelos brincar
aceito ser sua musa fugaz
por uma noite apenas
e nada mais
onde estou não existe geografia
e não está finda a minha sorte
estou a fim é de sorte
meu leito é do mundo inteiro
não estou perto nem longe
não estou tardando querido
onde estou não existe tempo
mas aceito ir aí como o vento
com os teus cabelos brincar
aceito ser sua musa fugaz
por uma noite apenas
e nada mais
quinta-feira, 13 de março de 2014
Um poema de Castro Alves
Onde estás?
É meia-noite...e rugindo
Passa triste a ventania,
Como um verbo de desgraça,
Como um grito de agonia.
E eu digo ao vento, que passa
Por meus cabelos fugaz:
" Vento frio do deserto,
"Onde ela está ? Longe ou perto?"
Mas, como um hálito incerto,
Responde-me o eco ao longe:
" On! minh'amante, onde estás?..."
Vem! É tarde! Por que tardas?
São horas de brando sono,
Vem reclinar-te em meu peito
Com teu lânguido abandono!...
'Stá vazio nosso leito...
'Stá vazio o mundo inteiro;
E tu não queres qu' eu fique
Solitário nesta vida...
Mas por que tardas, querida?...
Já tenho esperado assaz...
Vem depressa que eu deliro
Oh! minh'amante, onde estás?...
Estrela - na tempestade,
Rosa - nos ermos da vida,
Íris - do náufrago errante,
Ilusão - d'alma descrida,
Tu foste, mulher formosa!
Tu foste, ó filha do céu!...
...E hoje que o meu passado
Para sempre morto jaz...
Vendo finda a minha sorte,
Pergunto aos ventos do Norte...
" Oh! minh'amante, onde estás?"
Bahia
Antônio Frederico de Castro Alves
em " Espumas Flutuantes"
É meia-noite...e rugindo
Passa triste a ventania,
Como um verbo de desgraça,
Como um grito de agonia.
E eu digo ao vento, que passa
Por meus cabelos fugaz:
" Vento frio do deserto,
"Onde ela está ? Longe ou perto?"
Mas, como um hálito incerto,
Responde-me o eco ao longe:
" On! minh'amante, onde estás?..."
Vem! É tarde! Por que tardas?
São horas de brando sono,
Vem reclinar-te em meu peito
Com teu lânguido abandono!...
'Stá vazio nosso leito...
'Stá vazio o mundo inteiro;
E tu não queres qu' eu fique
Solitário nesta vida...
Mas por que tardas, querida?...
Já tenho esperado assaz...
Vem depressa que eu deliro
Oh! minh'amante, onde estás?...
Estrela - na tempestade,
Rosa - nos ermos da vida,
Íris - do náufrago errante,
Ilusão - d'alma descrida,
Tu foste, mulher formosa!
Tu foste, ó filha do céu!...
...E hoje que o meu passado
Para sempre morto jaz...
Vendo finda a minha sorte,
Pergunto aos ventos do Norte...
" Oh! minh'amante, onde estás?"
Bahia
Antônio Frederico de Castro Alves
em " Espumas Flutuantes"
quarta-feira, 12 de março de 2014
Anúncio de Antiquário
Poema do livro Invenção de Eurídice.
terça-feira, 11 de março de 2014
O amor nos tempos da Segunda Guerra
dedicado à minha mãe Francisca
" A vida sem música seria um erro"
Nietzsche
Há quem tenha medo de olhar os astros, quem tenha medo dessa real
grandeza, mas os astros não são perigosos, ou será que são?
Alguns astros estão mais desprotegidos como a lua, sem atmosfera, tudo que nela esbarra vira cratera e dor.
Fico
lembrando de alguns dos meus amores, o sabor dos nossos beijos era uma
mistura de manga
com morango, strawberry and mango, e eu amava um outro que fumava
cigarros Lucky Streit, o gosto de cigarro na boca. Fumar já foi muito
glamouroso, meus cabelos
tinham cheiro de cigarro, eu cheirava à fumaça e pérola, vivia toda
esfumaçada, toda perolizada, era uma delícia... tudo muito Pearl Habor,
como eu queria usar um perfume Pearl Habor...E tinha um outro que adorava
me trazer passas Sun-Maid, eu me sentia a moça ensolarada da
embalagem, Sun-maid growers of california, just grapes and sunshine...E o leite moça, essa última latinha que comprei...será que é de desde 1921 mesmo? Se for, é do ano que nasceu minha avó, portanto, sou neta de uma senhora de respeito já posso até ser mumificada e enlatada. As três últimas gerações de mulheres da minha família têm a idade da lata de leite moça, sou neta da senhora leite moça lunar. A primeira vez que minha avó provou desse leite foi justamente na Segunda Guerra e até hoje eu e minha mãe gostamos e nos deliciamos. Os médicos e os homens dizem não. Não tomem leite moça, olhem as taxas, que taxas gente que nada, eu adoro leite moça, a vida sem leite moça seria um erro, um ermo, uma tristeza sem fim. Há dias que amanheço meio amarga, dias em que se diz adeus aos agrados sagrados, e haja leite moça para me adoçar, é preciso me embriagar, tomar um pequeno porre de leite moça, leite moça rejuvenesce, faz a gente ser criança de novo e um beijo com sabor de leite moça salva qualquer um. Ainda mais olhando para essa paisagem do Cristo Redentor. Cristo lunar de braços abertos sobre a cidade, assistindo a tudo que está acontecendo, branco como a lua e como a paz. Distante como um astro aceso sobre o Corcovado. Banho de lua, banda da lua, lua dos poetas e amantes que, de um jeito ou de outro, descobrem de onde é que o amor vem. Vai nascendo das palavras, das mais banais às mais altas, sejam frascos de perfume, sandálias de camurça, trem, avião, navio, tudo isso a gente tem, viajando dentro do corpo, quando a paixão fulminante bate à porta, quando ela finalmente vem.
segunda-feira, 10 de março de 2014
love center
energia elétrica
fabricante faiscante
marca fêmea
modelo 1970
tipo de degelo fogo
tensão tesão vênus
mais eficiente
amar berrar
criar desejar
menos eficiente
consumir-se sem solidariedade
na energia adotada no clima tropical
220 00 110 wolts
voltas, revoltas, volutas, lutas
muitas volúpias o mundo dá
fabricante faiscante
marca fêmea
modelo 1970
tipo de degelo fogo
tensão tesão vênus
mais eficiente
amar berrar
criar desejar
menos eficiente
consumir-se sem solidariedade
na energia adotada no clima tropical
220 00 110 wolts
voltas, revoltas, volutas, lutas
muitas volúpias o mundo dá
domingo, 9 de março de 2014
cinema mudo
era a primeira vez na vida
que o menino tinha recebido
notícias daquela terra
na guerra fica tudo tão diferente
os trens, os navios,
os trilhos entre as chamas
Ele dizia: Você não acha que essas pontes
já queimaram o bastante?
é tanta fumaça
que a gente nem consegue respirar
e perguntaram ao menino:
mas o que você preferia
se alistar ou não se alistar?
- claro que eu preferia me alistar
como eu aceitaria uma guerra
sem que eu fosse para lá?
que o menino tinha recebido
notícias daquela terra
na guerra fica tudo tão diferente
os trens, os navios,
os trilhos entre as chamas
Ele dizia: Você não acha que essas pontes
já queimaram o bastante?
é tanta fumaça
que a gente nem consegue respirar
e perguntaram ao menino:
mas o que você preferia
se alistar ou não se alistar?
- claro que eu preferia me alistar
como eu aceitaria uma guerra
sem que eu fosse para lá?
sábado, 8 de março de 2014
Luísa
Não sou precisa
nem sólida ou líquida
Sou matéria que hesita
entre muitas feridas
não sou precisa
não tenho fórmula
não me equaciono
não tenho lógica
Não sou precisa,
meu caro,
lamento
não tenho siso nem senso
e ando vestida de vento
nem sólida ou líquida
Sou matéria que hesita
entre muitas feridas
não sou precisa
não tenho fórmula
não me equaciono
não tenho lógica
Não sou precisa,
meu caro,
lamento
não tenho siso nem senso
e ando vestida de vento
sexta-feira, 7 de março de 2014
Descoberta no espelho
Tua pequena varize
se insinuando na perna
fino rio de sangue azul
onde as tristezas navegam
herança de tua avó, de tua bisavó
marca do teu trabalho
do trabalho delas
cicatriz do filho que esperaste
e das escadas que subiste
tua pequena varize
não é doença ou velhice
mas antes sinal de beleza
irmã dos rios, dos navios e da chuva
irmã de todas as coisas
que ultrapassaram limites
se insinuando na perna
fino rio de sangue azul
onde as tristezas navegam
herança de tua avó, de tua bisavó
marca do teu trabalho
do trabalho delas
cicatriz do filho que esperaste
e das escadas que subiste
tua pequena varize
não é doença ou velhice
mas antes sinal de beleza
irmã dos rios, dos navios e da chuva
irmã de todas as coisas
que ultrapassaram limites
quinta-feira, 6 de março de 2014
A equilibrista
Quedas riscos matéria
tudo um jeito de iludir
A um perfume de incêndio
vou entregando meu corpo
deixando para trás edíficios
torres fragas
e todas as ameaças de cair
tudo um jeito de iludir
A um perfume de incêndio
vou entregando meu corpo
deixando para trás edíficios
torres fragas
e todas as ameaças de cair
quarta-feira, 5 de março de 2014
O espantalho
Ao meu redor cresce verde a lavoura
e eu sou de seca palha
Ao meu redor homens se movem e trabalham
e eu resisto imóvel ao meu ofício triste
Estou cercado de arame por toda parte
por toda parte assusto pássaros que amo
Meus braços estão abertos para o espanto
não para o trabalho ou o abraço
Meu corpo de palha seca
nunca sentiu a volúpia dos bichos
Vivo abismado e só
escancarado sob a luz dos astros
e eu sou de seca palha
Ao meu redor homens se movem e trabalham
e eu resisto imóvel ao meu ofício triste
Estou cercado de arame por toda parte
por toda parte assusto pássaros que amo
Meus braços estão abertos para o espanto
não para o trabalho ou o abraço
Meu corpo de palha seca
nunca sentiu a volúpia dos bichos
Vivo abismado e só
escancarado sob a luz dos astros
terça-feira, 4 de março de 2014
Oração a São Miguel Arcanjo
Se houver perigo esta noite,
preciso que me abrigues
Não te fies no delicado trato
que tenho com os monstros
Eles mentem
Nós mentimos, todos mentem
Se houver perigo esta noite,
não penses que sou forte
só porque vivo só
e conheço toda a ilha
e domino palavras e com elas
construo armas e escudos
Se houver perigo,
preciso que sejas meu pai,
forte, amigo,
afastando com a espada os inimigos
Preciso que pises sobre o meu terror
como pisarias mansamente
sobre um demônio adormecido
preciso que me abrigues
Não te fies no delicado trato
que tenho com os monstros
Eles mentem
Nós mentimos, todos mentem
Se houver perigo esta noite,
não penses que sou forte
só porque vivo só
e conheço toda a ilha
e domino palavras e com elas
construo armas e escudos
Se houver perigo,
preciso que sejas meu pai,
forte, amigo,
afastando com a espada os inimigos
Preciso que pises sobre o meu terror
como pisarias mansamente
sobre um demônio adormecido
segunda-feira, 3 de março de 2014
Morro da Forca
Minha coragem me deixará leve
suspenso entre olhares abismados
Pela última vez ouço o vento
Basta uma corda, basta um salto
E nunca mais as igrejas
e nunca mais essas ruas
e nunca mais a volúpia do sol
sobre minha carne
Talvez seja só um exílio
uma leveza erguida sobre as pedras
um modo desconhecido de ser pássaro
suspenso entre olhares abismados
Pela última vez ouço o vento
Basta uma corda, basta um salto
E nunca mais as igrejas
e nunca mais essas ruas
e nunca mais a volúpia do sol
sobre minha carne
Talvez seja só um exílio
uma leveza erguida sobre as pedras
um modo desconhecido de ser pássaro
domingo, 2 de março de 2014
Livres reflexões sobre Descartes e viagens
Assim como Sócrates, salvaguardadas as devidas diferenças, Descartes(1596-1650) busca a fundamentação para um saber autenticamente filosófico não entre os homens mais cultos de seu tempo, mas a partir de uma investigação de si mesmo e da conversa com homens e mulheres de múltiplos pontos de vista. Acrescentando à reflexão filosófica o conhecimento vivo de variados costumes, as viagens e a experimentação de si através das circunstâncias que a vida nos coloca. Nesse sentido, após ter estudado em uma das melhores escolas de sua época e de ter acesso a toda a cultura veiculada pelos livros de seu tempo, considerou que, em termos de aquisição de erudição, esses estudos já teriam sido suficientes e que seria preciso, sem negar obviamente a utilidade de uma boa erudição, dar um passo além dela e procurar algo constante e firme nas ciências, constância essa que não tinha encontrado na disputa dos filósofos da época com seus variados discursos a respeito de qualquer tema. Essa é uma das razões mais fortes para que tenha pensado que o caminho dos livros não é o único a ser traçado por quem busca o conhecimento. Nossa razão, no sentido cartesiano, é entendida como algo que pensa, duvida, nega, quer e não quer e é muito mais acessível ao conhecimento que a nossa realidade corporal. É também a faculdade de discernir o verdadeiro do falso. Analogamente ao pensamento socrático, ele pensa que basta julgar bem as coisas para proceder bem. Acrescentemos a isso uma outra afirmação cartesiana, assumida no texto Princípios da filosofia, em que a filosofia é entendida como o conhecimento de todas as coisas que o homem pode saber para a correta condução de sua vida, a conservação da saúde e a invenção de todas as artes...
Assinar:
Postagens (Atom)