La bruja, Cildo Meireles
Era tão brando ser bardo
antes da bruxa
Tão fácil memorar breves desígnios
e olhar-se no espelho junto com as bolhas
de sabão
e azul como elas dispersar-se
Havia um certo cuidado
uma sutileza compondo o rosto
As faces em tempo de estio e ensolaradas
as faces assim avarandadas
dóceis aos ventos e aos nadas
Era tão brando ser bruxa
antes do bardo
catar morcegos mortos e ervas malditas
e fazer o mal sem que nenhum arco se quebrasse
Sentir as febres, dormir sob o gume da faca
era tão fácil a maldade sem a arte
Mas tu não sabes, meu amigo,
a flor escura
de agora ser tão bardo e bruxa ao mesmo tempo
E sendo bardo querer cantar os dias
e sendo bruxa odiar o próprio canto
sexta-feira, 31 de outubro de 2014
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário