domingo, 29 de agosto de 2010

Prisões




Antes eu era o incêndio
agora faço seguro contra fogo
contra roubos

Eu mesma era furacão
eu mesma roubava
agora apaziguo tudo e tranco

Antes eu era as perdas
agora sou vista pelo bairro, precavida,
comprando cadeados sob medida

domingo, 8 de agosto de 2010

Mulher da saia plissada

uma cólica breve
me permitiu essa tarde
não malhar, não dar aulas
não ir ao banco, ao cinema
nem dentista, astrólogo ou mágico

ficar somente à espera

de que a dor passe
de que as horas passem
com seu aveludado rumor de primavera

uma cólica essa tarde
me libertou de ter amigos
partos, livros, raios, marido
trabalho, pasmos

me libertou até do mistério
da vestimenta dos reis

essa tarde só esse ventre
escoando
luzes cor de púrpura se pondo

um corpo assumindo sua dor
sobrado quieto fechado
onde móveis sólidos e mudos
dialogam sozinhos com o passado


quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Agosto

Como um hiato às voltas com escuro
pulsa o meu poema
e vibra frio vidro estilhaçado
numa ameaça de espanto que me ronda
Como uma espécie de arma, como um músculo
o meu poema me cerca
com gargalhadas de doido
com esperanças de cura
Ele me assusta me segura me defende
com uma mão de fantasma
contra a morte
O meu poema é um cio, uma dor que me cuida
um cão, uma mãe que canta
um corpo moreno e luta