segunda-feira, 29 de julho de 2013

Matafuegos

musos e musas
de todas as cidades me salvem
sou uma força em um plural terrível
atenção Lisboa, Berlim, Buenos Aires
arrombei a porta de casa
larguei os filhos
os sapatos, as máscaras
estou com um incêndio
na boca, na voz, no riso
matei toda essa vida
calculista
roubei
e estou fugindo para o poema

domingo, 28 de julho de 2013

Festa de São João




Isso não é invasão é olhação

sua noite começa melhor

depois que alguém  te olha

Se eu ficar na barraca do beijo

vou dar prejuízo

ninguém vai querer me beijar

mas se eu ficar na barraca do olhar

quem sabe, talvez,

São João

acenda a fogueira do meu coração

e aí vou continuar

não é urgente, não é para casar

é só para olhar

Isso não é invasão, São João,  é só

olhar,  luz,  câmera,  ação

meu nome é Suellen

maria chuteira

superem

sexta-feira, 26 de julho de 2013

uso e desuso

muse-me e abuse-me
cante-me
escreva-me
leia-me
curta-me
adoce-me
roube-me
use-me
mas meu coração não é de pelúcia,
baby:
é de carne

quinta-feira, 18 de julho de 2013

mensagem de uma Helena estrelada

depois acho que vou fazer um poema
mulher curiosa, mulher dos furos, do furô
das fendas, das peixeiras,
mulheres rendeiras
das navalhas, etc e tal
se quiser ainda me dar um alô
tô aqui
na luz natural do pacífico
fuso horário trocado
datas alteradas
programada e libertada
garota de programa
lâmpada acesa
entre o tear e o fuso
entre o fuso e o tear
de frente para o mar

sábado, 13 de julho de 2013

Resposta ao Anjo Gabriel

Agora que aprendeste a incendiar-me
e me adivinhas inteira dentro do vestido
agora que invadiste a sala e o chão de minha casa
agora que fechaste a porta
e me calaste com teus lábios e língua
peço-te afoitamente
que me faças assim
ínfima e sagrada
muito mais pornográfica do que lírica
muito mais profana do que tântrica
muito mais vadia do que tua 
 
                                                   George Segal, Girl putting on mascara, 1968

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Ariadne

                                                     J.W. Waterhouse 1898

Os túneis não te alcançam mais
nem rastros, nem restos
nem luzes
me arrasto entre novelos sujos
paredes escuras
labirintos
Há trilhos, muitos trilhos
Mas não são caminhos
e me prendem
Mesmo assim
vivo gerando fontes e jardins
E aguardo o dia
em que voltarás
silencioso e faminto
para perto de mim

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Clítia


Estou atada a um destino
como a um rochedo
Por séculos serei um girassol
acorrentado à luz

Amigo Prometeu, tu que roubaste
o fogo dos deuses para colocá-lo
no coração dos homens,

liberta agora meus olhos dessa escravidão

Preciso curar-me, amigo,
dessa claridade
Quero sombras para drenar
essa luz que não me dá sossego
Ensina-me um jeito de abrandar
o fogo e de expulsá-lo

Preciso de trevas para o meu desejo