sábado, 26 de março de 2011

Dioniso diante de Apolo

Agora que acalmaste meu tornado
e que aceitei tua flecha
sobre a minha carne

Agora que me fecundaste com a medida
e que me deste margens
Agora que pousaste a mão
sobre o meu medo

Vês como as palavras nascem de mim
pausadas
e como tornei-me brisa
ateada sobre o pranto?

Desde que me concedeste tua máscara,
deus solar,
a noite que eu trazia
perdeu o gume terrível

Vem, amigo, vem ver
como, mesmo diante do sangue,
tornamos bela
a dor para esses gregos

terça-feira, 8 de março de 2011

Oração

Agradeço esse dia e todas as suas sombras
e o que me tocou como foice
e a face delicada que mostrei

Agradeço esse dia e todas as suas marcas
e o que ficou na encosta e o que restou nos olhos

Agradeço essa febre
o riso que espelhei sobre as águas
a beleza que busquei
e a vida que desejei com tanta força

domingo, 6 de março de 2011

Lance de dardos

Como se fossem de mármore
os dardos duram dentro de mim
perfeitos
E aprendi com eles a lançar-me
e aprendi com eles a ter medo
a me esconder dos nomes
fugir das luzes fortes
e da insensatez dos automóveis
Aprendi com os dardos
uma espécie de vida iluminada
uma sutileza para arremessos
estratégias de ataque
fugas
um modo impecável de me abrigar da chuva
E aprendi também uma crueldade
e uma coragem toda feita de começos