quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

O ciclista noturno

                                                       Henri Toulouse-Lautrec               

Está escuro na bicicleta veloz
E chove, chove, chove uma alegria
sobre o corpo, sobre o sangue
sobre o espanto do peito acelerado
contra o vento
E se quebram contra o calçamento
mentiras e reis
Granizo que se desfaz na travessia

Veias de vidro trincadas pela luz
que escoa dos postes da rua

Caminho, ciclovia,
rota iluminada
por pequenas e úmidas luas

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

O poema de Laura

                                                           Gustav Klimt


Essa moça que amei
na tarde fria
não a amo mais

Aos poucos
estou esquecendo seu rosto,
suas formas, seu modo obsceno
de gritar meu nome em meio ao gozo

Estou esquecendo suas mãos, seus gestos,
seu modo de fugir, sua alegria.
A cada dia que passa
eu a esqueço mais
como se ainda fosse amor o que sentisse

Estou esquecendo as águas
onde a vi banhar-se
esqueço as vestes claras, a trança úmida,
e os pequenos defeitos de seu corpo

Se me perguntarem se era feia ou bonita,
não sei, não lembro
tampouco sei dizer se ela era triste

Mas às vezes vinha pela tarde
feito um anjo sem abrigo
e meu amor mordia suas asas

Assim, ferida, ela ficava
presa sob meus cuidados
imune à ira dos deuses e do tempo

Mas me escapou um dia
Ah, essa moça que amei na tarde fria...