quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Penas de uma casa em cinzas

" Traga-me um copo d'água, tenho sede."
              Gilberto Gil



É óbvio que anoiteceu
está registrado em fotos
em minas, em mapas
Não posso trazer de volta o passado
imitando a voz dos mortos
Não posso devolver sua mãe,
sua filha, sua falta
O que há por dentro são gambiarras
madeiras úmidas, telhas e vidraças quebradas
A vida gotejando no balde
e a caixa de amianto vazia
de onde espero toda água possível
para o chão limpo e claro que preciso

Um comentário:

  1. Fiquei aqui pensando se todo poema não seria uma casa, abandonada pelo poeta depois de limpar todas as digitais, deixando, porém, espalhados objetos essenciais que só poderiam identificar o antigo morador como um coletivo, um ser que poderia ser todos sem ser qualquer um.

    Esse gotejamento... Essa caixa vazia. Final pungente.

    Abraço.

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