domingo, 23 de fevereiro de 2014

O lobo e a festa

O lobo aluga quartos em nosso corpo, em nossa ordem silenciosa e provisória. Ele se aloja lá como um crustáceo no seio de uma dama. É a estranheza com a qual precisamos conviver. Nossa própria dor, nosso exílio. Somos portadores do lobo, mas precisamos de algum tipo de verniz, por isso precisamos do cenário, mesmo que se ande por aí desastrado. O lobo da estepe se apaixona por sua própria juventude na personagem Hermínia, travestida de homem. Dialoga com o feminino como quem dialoga com o passado, com a festa, com a união que a festa proporciona. A ilusão de não ser solitário.Vai para o baile de máscaras onde todos podem ser quem desejam. Através das máscaras e dos nomes cifrados, muitos corpos se tocam sem se tocar, ou fingem muito bem que não se tocam. O desejo secreto da festa é o desejo do todo. Entre o lobo, a festa e a burguesia estamos atados e encantados. Às vezes malvados, às vezes delicados, fazemos com a vida pactos.

2 comentários:

  1. Quantos quartos, com portas emperradas, que não se abrem há tanto tempo, outros disfarçados como contos do Poe, detras de falsas paredes, e outras ainda sendo construídas, tudo sob nosso falso controle, fraca visão, feroz fúria e muito, muito som, ruído.

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