Há quem afirme que o romance policial é um gênero controverso, acusado de não evocar questões inquietantes de uma literatura mais elaborada intelectualmente. Sendo assim considerado inferior aos outros gêneros literários.
Um dos exemplos dessa controvérsia é a obra do escritor belga George Simenon (1903-1989), autor com habilidade jornalística para a escrita rápida e cujas vendas mundiais são indício de um sucesso literário respaldado também por vários artistas, intelectuais e escritores que foram seus contemporâneos.
Humanista, cético, com uma aguda visão psicológica da sociedade, através da observação de crimes, invejas, dores, humilhações e sofrimentos, o inspetor parisiense, Jules Maigret, seu mais famoso personagem, atua como um autêntico investigador dos " labirintos da alma" humana. Desvendando, muito mais que crimes, o que há de " humano, demasiado humano" em cada um de nós.
A referência a expressões de Nietzsche não vem por acaso. O filósofo alemão descobriu em autores da literatura do século XVII, como La Rochefoucauld (1613-1680), e em alguns outros escritores considerados frívolos por muitos intelectuais renomados, uma fonte generosa para observações perspicazes sobre a condição humana e denuncia, além disso, que os textos grandiloquentes negligenciam observações mais agudas sobre nossas ações, motivos, maldades e mesquinharias.
Os enredos policiais dos romances de George Simenon podem ser, sim, potentes catalisadores para uma compreensão mais apurada de nós mesmos. Suspense filosófico e existencial. Literatura de entretenimento aliada à aventura do autoconhecimento. Hitchcock, como nos aponta o filósofo e psicanalista Zizek, é também uma possibilidade para essa aventura.
Recriação fotográfica de Vanity Fair
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