sábado, 15 de junho de 2013

A fiandeira

                                                          fábrica de tecidos século XIX

Eu fiaria um manto inteiro hoje
enquanto você dorme
Há lembranças que não tenho onde guardar
e que só depositaria bem numa fogueira

Não há memória, nem nomes,
nem arcas, nem caixas
que possam conter tanto furor

Eu fiaria um manto inteiro
mas um manto não serve
Poderia inventar lendas
narrar um sonho aos marinheiros
mas nem lendas, nem sonhos,
nem marinheiros poderiam exprimir
o que vivi

Eu fiaria um manto inteiro hoje
mas não serve um manto
não serve enterrar segredos numa ilha
e esperar o temporal passar

Há dias em que os raios são a única saída

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