La bruja, Cildo Meireles
Era tão brando ser bardo
antes da bruxa
Tão fácil memorar breves desígnios
e olhar-se no espelho junto com as bolhas
de sabão
e azul como elas dispersar-se
Havia um certo cuidado
uma sutileza compondo o rosto
As faces em tempo de estio e ensolaradas
as faces assim avarandadas
dóceis aos ventos e aos nadas
Era tão brando ser bruxa
antes do bardo
catar morcegos mortos e ervas malditas
e fazer o mal sem que nenhum arco se quebrasse
Sentir as febres, dormir sob o gume da faca
era tão fácil a maldade sem a arte
Mas tu não sabes, meu amigo,
a flor escura
de agora ser tão bardo e bruxa ao mesmo tempo
E sendo bardo querer cantar os dias
e sendo bruxa odiar o próprio canto
sexta-feira, 31 de outubro de 2014
quarta-feira, 8 de outubro de 2014
Alcíone
Renata Dorea
Ando à procura de um espelho
que te traga
de alguém que anuncie tua chegada
um presságio, um aviso
alguma mensagem que se abre
com navalha
Se ao menos eu sonhasse
se tua imagem me desafiasse
e me seguisse
se houvesse uma urna, uma ilha
uma prisão qualquer onde estivesse retida
Se as aves te anunciassem
se tivesses um anel
se deixasses uma pista
Mas não há nada, nada
só meu silêncio
em busca de teu nome
e deuses marinhos me turvando a vista
Ando à procura de um espelho
que te traga
de alguém que anuncie tua chegada
um presságio, um aviso
alguma mensagem que se abre
com navalha
Se ao menos eu sonhasse
se tua imagem me desafiasse
e me seguisse
se houvesse uma urna, uma ilha
uma prisão qualquer onde estivesse retida
Se as aves te anunciassem
se tivesses um anel
se deixasses uma pista
Mas não há nada, nada
só meu silêncio
em busca de teu nome
e deuses marinhos me turvando a vista
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