Desse delírio tenho medo
desse delírio que ama e sonha
e me espera atrás do beco
e me ataca pelas costas
e se vinga do meu medo
Desse sonho, dessa viagem,
do nosso amor
tenho medo
quando ele vem sorrateiro
quando atravessa os bueiros
e me pega de surpresa
e me enterra um dardo
no peito
Do seu perdão tenho medo
desse perdão que liberta
e fere mais que a ofensa
e dói muito mais do que ódio
E mesmo com tudo isso
o amor amanhece refeito
nunca, nunca um amor perfeito
mas doído, trucidado
feito de carne e verdade
feito de estranha voragem
quase de cinzas composto
Brasas queimaram meu rosto
mas eu volto livre e amada
com cicatrizes guardadas
Vou voltando, meu amado,
ao nosso amor imperfeito
O que poderia, nesse mundo,
roubar-me a sua beleza?
Nem as feras, nem o bruxos
nem os circos enfeitiçados
nem os meninos mais tristes
nem o fado inexorável
Nem trapezistas ou mágicos
nem a morte, meu amado,
nem os saltos, nem as quedas
nem as fugas mais abertas
nada disso me atormenta
Quero o nosso amor a salvo
mesmo que sejam vorazes
os deuses que ousam matá-lo
Quero o nosso amor humano
mesmo que eu tenha medo
mesmo que seja frágil
nosso amor de porcelana
Mesmo que seja estranho
eu me lanço
delicada como uma borboleta
furiosa como uma lâmina
E uma coragem danada
me leva para os seus braços
um tipo de cegueira
uma escuridão quase acesa
Uma ventania dos diabos
vem açoitando meu corpo
cheio de juventude
E em você eu deságuo
sangro a romã dos seus lábios
desembaraço seus cabelos
alongados
beijo seu corpo forte, alto, iluminado
E permito tudo
absolutamente tudo
ao seu lado
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