sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Os contratrilhos do bonde


                                                       Fogo Cruzado- Ronald Duarte



O motorneiro me explica
que o bonde é guiado
pelos contratrilhos.
A fenda entre os trilhos
dá a direção
as retas, as curvas, os caminhos.
Pergunta se estou desconfortável
ali em pé ao seu lado
segurando a roda de ferro do freio.
Digo que o conforto não é prioridade
e sim o desejo de estar ali à frente
com os cabelos assanhados pelo fogo.
Agarrada à vida com muita força sigo
para novos e delicados perigos

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Página do diário de bordo

Enquanto você desenha calendários na sala,
ouço barcos e cais
Farol que iluminas as milhas
Você me faz
C’est toi qui m’a fait
Pele, gestos, unhas
Tudo inventado por você
Enquanto você calcula nossos dias na sala
enquanto trama novas aragens
conto nossa viagem em palavras
teço um livro há anos
com sua lã, seus cabelos, sua aura

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Dânae e os pensamentos de Zeus

Klimt




Quero alcançar-te com a chuva em que me transformo toda tarde
invadir os altos muros com meus erros
cercar-te com navios
guardar-te sob meus pés de ave

Ando vadiando ao redor dessas terras
à espera de que tuas torres desabem
e que nada mais te salve

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Lançamento de livro de poemas

 Esse  livro de poemas inéditos e escolhidos será lançado na próxima segunda-feira em Natal-RN, na livraria Siciliano, no Shopping Midway Mall, a partir das 19 horas. Estão todos convidados.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Idílio

Entre notícias antigas e muralhas
construí com você
um amor feito alucinadamente de palavras
Meus versos seduzem os seus
seus versos aliciam os meus
Coloquei nossos livros juntos na estante
para que se toquem
e se amem clandestinamente
durante as madrugadas

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

As vestes

http://anonimundo.blogspot.com/
Enfrentei furacões com meus vestidos claros
Quem me vê por aí com esses vestidos
estampados
não imagina as grades, os muros
o chão de cimento que eles tornaram leves
Não se imagina  a escuridão
que esses vestidos cobrem
e dentro da escuridão os incêndios que retornam
cada vez que me dispo
cada vez que a nudez me liberta dos seus laços

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Fiat Lux

Banhamo-nos em teu desejo
e naquilo que nos transmites com mãos tépidas:
Telescópios, criação de abelhas
Cuidado com pássaros e filhos

Tudo cabe nas nuvens que carregas
Estende-te ao sol
nossa ama e senhora
clareando cada cômodo da casa
com vozes e passos
Mesmo tua ausência inunda de calor
os corpos que tocamos

Aprendemos a recolher-te, amiga,
em pequenos vidros quebrados
lâminas comuns das facas na cozinha
ou no varal de roupas sobre os vasos de plantas

O gume de tua força fende as coisas mais óbvias
De onde, aturdidos,
vemos asas brotando

sábado, 4 de dezembro de 2010

Veraneio

Ele a cobria
com a brisa úmida da tarde
e ela saía assim
toda feita de brisa

Abençoada pelos olhos que mentiam
fingindo não ver o que era frágil
as saudades que iam nascer
por baixo daqueles cabelos

Saía de suas mãos com a força de uma estrela
Ninguém podia ver
os joelhos feridos
da menina feliz que ele inventava
naquelas tardes febris de veraneio

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

o teu demônio

O teu demônio me segue
anos a fio
Tece flores para mim
divide meu corpo em partes

Ele me culpa
acena feliz por trás das labaredas
dança ao meu redor
cresce como uma planta
aparo suas bordas seu rabo seus chifres

O teu demônio me encanta
como um retrato antigo amarelado
uma xícara de louça no mercado

O teu demônio me espanta
canta para mim todas as noites
me arde me explora me atormenta
O hálito quente sobre a minha boca
a febre sempre

O teu demônio vai embora hoje
eu fujo dentro dele a galope
e vivo dentro dele feito um passarinho
feito uma coisa miúda enorme pobre
dilatada como um crucifixo
dura como uma esmeralda

Me esmero e espero
um dia me chamo Laura
tu me abocanhas os peitos
eu te abocanho a alma

Olívia no século XIX

Sob a chuva delicada
em parte alguma há teus sinais
nem leve musgo sobre o barro
nem músicas se escutam mais

Nessa dança compassada
escrevo cartas demais
para o porto, para o fogo

Com essas tranças onduladas
sou abelha, sou rainha
mesmo que a rua não seja minha

Sob a água delicada
não conheço para onde vais
nunca dancei contigo
não sei  se és terror ou cais

Memória

O musgo vai cobrindo as paredes
entre as quais vivemos
se alastra sobre fotografias
Lâminas verdes de silêncio
calam nossa memória
nossas alegrias
E um dia tudo será passado
vou olhar para tudo sem dor
sem medo nem esperança
como uma obra pintada por outra pessoa
sem uma gota do meu sangue

A falta que mata

Onde estão as fadas que viriam
varrer os entulhos dessa casa?
Onde estão os amantes e as bruxas
com suas duras risadas?

E os anões e os loucos
e todos os outros demônios
que amei e inventei?

Para onde fugiram
onde se meteram neste dia claro?
Por que me abandonaram?

A onda

Nasci da força do vento
para viver me afasto do meu centro
fujo da minha raiz
Peixe-pássaro viajo
vou longe, muito longe
levo navios e barcas
e numa praia qualquer
me despedaço em cachos
de espanto e espuma

Cenas de Ouro Preto

É preciso ter a medida certa de febre
a dose certa de encanto
e fino tato

Aqui é tudo delicado e precioso
as cruzes ancoradas nas pontes
enfeitadas e coloridas com papel crepom

Na Páscoa fizemos coloridos tapetes com serragem
Não temos mar
mas um trem corta vivo as montanhas
como um peixe imenso

A chegada de Mercúrio

Acendes espelhos por onde passo
e mesmo em tua fúria
inventas silêncios que me acalmam
mirantes fogueiras viagens
tudo me trazes nos dias em que ancoras
tua ventania nos meus braços

Brinquedos

Os brinquedos eram vivos mas mutilados
Às vezes os rios levam os brinquedos da gente
e ficamos ali à beira das águas
esperando outros trazidos pelo tempo:
um porco-espinho sem pata
bonecos sem braços
carrinhos sem roda

As crianças se sobressaltam
em risos delicados
Telefonam para alguém que não existe
Dobram sem cuidado as próprias pernas
como as pernas dos bonecos tristes
e se perguntam espantados:
será que os brinquedos belos existem?

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

O espantalho

 Ao meu redor cresce verde a lavoura
e eu sou de seca palha

Ao meu redor homens se movem e trabalham
e eu resisto imóvel ao meu ofício triste

Estou cercado de arame por toda parte
por toda parte assusto pássaros que amo

Meus braços estão abertos para o espanto
não para o trabalho ou o abraço

Meu corpo de palha seca
nunca sentiu a volúpia dos bichos

Vivo abismado e só
escancarado sob a luz dos astros




http://anonimundo.blogspot.com/



Narcissism and Celebrities

Picasso



" The thriving globalization is turning things into better situations for citizens.
That’s in-your-face and undeniable. In South Africa I can talk to an Asian keypal without difficulties. Furthermore, I could see the face of that friend.
As the world has become a “village”, everyone’s closer to each other, and people can reach their wishes out more efficient and frequently. For example, the fame, jobs, in short: values which are exposed and wanted like labels became easier to achieve. Anyone can get famous just in a blink by uploading any innovative video on YouTube, even if that one hasn’t studied or worked enough to accomplish the goals.
As a result, more people have gotten noticeable, but unfortunately the majority of them don’t know how to handle this sudden fame. So sooner or later they’ll see the failure knocking on their door, even more if they face the new reality with extreme narcissism.
A crucial point which can determine the destiny of those “new celebrities” is that narcissism. I mean, every celebrity is narcissistic and so we are because that’s a common sort of human characteristic. Which levels can vary according to each one.
People who talk back to everybody (don’t care about the others and are always looking for success, beauty and fame, without worry about who’s on their way) are too narcissistic and have great possibilities of losing what they want. Just because they want too much."

Matheus de Simone Maciel


(16 anos) aluno do IFF-Cabo Frio