quinta-feira, 13 de março de 2014

Um poema de Castro Alves

                                Onde estás?

É meia-noite...e rugindo
Passa triste a ventania,
Como um verbo de desgraça,
Como um grito de agonia.
E eu digo ao vento, que passa
Por meus cabelos fugaz:
" Vento frio do deserto,
"Onde ela está ? Longe ou perto?"
Mas, como um hálito incerto,
Responde-me o eco ao longe:
" On! minh'amante, onde estás?..."

Vem! É tarde! Por que tardas?
São horas de brando sono,
Vem reclinar-te em meu peito
Com teu lânguido abandono!...
'Stá vazio nosso leito...
'Stá vazio o mundo inteiro;

E tu não queres qu' eu fique
Solitário nesta vida...
Mas por que tardas, querida?...
Já tenho esperado assaz...
Vem depressa que eu deliro
Oh! minh'amante, onde estás?...

Estrela - na tempestade,
Rosa - nos ermos da vida,
Íris - do náufrago errante,
Ilusão - d'alma descrida,
Tu foste, mulher formosa!
Tu  foste, ó filha do céu!...
...E hoje que o meu passado
Para sempre morto jaz...
Vendo finda a minha sorte,
Pergunto aos ventos do Norte...
" Oh! minh'amante, onde estás?"


                                                      Bahia
                                                    
                                             Antônio Frederico de Castro Alves
                                              em " Espumas Flutuantes"

































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