Onde estás?
É meia-noite...e rugindo
Passa triste a ventania,
Como um verbo de desgraça,
Como um grito de agonia.
E eu digo ao vento, que passa
Por meus cabelos fugaz:
" Vento frio do deserto,
"Onde ela está ?
Longe ou perto?"
Mas, como um hálito incerto,
Responde-me o eco ao longe:
" On! minh'amante, onde estás?..."
Vem! É tarde! Por que tardas?
São horas de brando sono,
Vem reclinar-te em meu peito
Com teu lânguido abandono!...
'Stá vazio nosso leito...
'Stá vazio o mundo inteiro;
E tu não queres qu' eu fique
Solitário nesta vida...
Mas por que tardas, querida?...
Já tenho esperado assaz...
Vem depressa que eu deliro
Oh! minh'amante, onde estás?...
Estrela - na tempestade,
Rosa - nos ermos da vida,
Íris - do náufrago errante,
Ilusão - d'alma descrida,
Tu foste, mulher formosa!
Tu foste, ó filha do céu!...
...E hoje que o meu passado
Para sempre morto jaz...
Vendo finda a minha sorte,
Pergunto aos ventos do Norte...
" Oh! minh'amante, onde estás?"
Bahia
Antônio Frederico de Castro Alves
em " Espumas Flutuantes"
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